“O que aconteceu comigo, nunca cê é capaz de pensar e de calcular” – Fabiano Mendonça Chaves
Ainda ontem pensava em como no fundo de nossos corações uma voz ressoa avisando de que algo não vai bem. Esta voz, é nossa consciência, que é Deus. Lembro-me – e isso ficará para sempre cravado em minha memória! – da última vez que te vi, aquela correria antes de ir embora. Olhei para o senhor, sentadinho no sofá como sempre, e pensei: dane-se essa doença! Eu preciso dar um abraço de despedida no meu tio tão querido. Em segundos, passou-se em minha cabeça que aquele pudesse ser o nosso último abraço, porque a vida nunca tem hora marcada para levar embora da gente quem mais amamos. Então, eu afastei aquele pensamento ruim e te abracei bem forte, Tio Fá. Prometi em meu coração que logo retornaria para te ver outra vez, quando tudo voltasse a ser como era antes. Mas nada nunca mais será como antes, e hoje tive certeza disso.
Não tive a oportunidade de lhe contar que criei um personagem em meu livro que é o senhor todinho, Seu Valentim. Fiz em homenagem ao senhor, um dos homens mais extraordinários e inteligentes que já conheci em toda a minha vida. Foi uma forma simples de te eternizar com o que sei fazer de melhor: escrever. Queria tanto ter contado isso ao senhor, ter a oportunidade de lhe abraçar outra vez… Agradeço a Deus por ter me concedido a chance de estar pertinho de ti esses últimos anos de uma forma diária. Foi um segundo pai para mim. Sempre que voltava da faculdade, lá estava o senhor sentadinho, esperando para conversar e contar mais uma vez as histórias impressionantes da vida repleta de aventuras e momentos históricos que o senhor viveu e falar sobre cada um dos dez mil livros que o senhor leu; sobre a construção de Brasília, a vez que apertou a mão do presidente Juscelino, aquela outra em que viu a “mula sem cabeça”, aquela da cobra a qual o senhor venceu no rio, da bala que o acertou abaixo do olho e que ficou para sempre em sua cabeça, da confusão no helicóptero… Guardarei para sempre em minha memória todas elas, e se antes Seu Valentim cresceu tanto, a ponto de se tornar o melhor personagem do meu livro perante quem está acompanhando, sem nem mesmo imaginar que isso aconteceria, hoje, faço questão de trabalhar com afinco para que ele continue neste posto até o fim de cada uma das páginas que vou escrever.
Como infelizmente não pude te contar sobre o meu anseio de eternizá-lo na literatura da qual o senhor tanto gostava, pedi a Nossa Senhora para que ela te abrace por mim e lhe conte essa singela homenagem, que não passará nem perto da grandiosidade de quem o senhor realmente foi. Que Ela e Nosso Senhor Jesus Cristo te recebam de braços abertos no paraíso.
Saiba que terá uma alma aqui na terra que continuará a rezar e se lembrar sempre do senhor até o fim de seus dias. Obrigada por tudo, tio Fá! Obrigada pelas histórias, pelas conversas, pelas balinhas nas férias e a sua companhia sem igual.
Até o céu, meu eterno tio Faloló!