Fotografia de Rodrigo Veloso (@rodrigobveloso)
Meus queridos peregrinos,
Eis que tenho algumas confissões para fazer. Confissões de inverno! Por falar nele, como o tempo voa! Eis que acordo alguns poucos dias atrás e, bem… já era inverno! É verdade que o outono o trouxe de mansinho, mas não é menos verdade que a estação mais gelada, tão querida por muitos, é para mim a que menos gosto.
Um dia, já foi a minha segunda favorita – um dia quando ainda era inverno em meu coração, quando olhava para tudo ao redor e só queria me ensimesmar em meu mundo interior tão distante do Bom Deus, tão vazio de sentido mas repleto de tristeza; um dia quando ainda olhava para a janela do velho e conhecido transporte escolar da adolescência e, além das lágrimas que caiam do Céu, podia ver no reflexo do vidro as lágrimas que rolavam pelo meu próprio rosto. Feições jovens de quem não sabia para onde ir, mas continuava a passar pela vida e a cultivar as tristezas inúteis, as mágoas mortíferas e as decepções inevitáveis dos chamados “anos rebeldes”. Naquela época, o inverno combinava com aquela visão triste que tinha da vida, e os sons da chuva harmonizavam muito bem com as batidas tão melancólicas quanto caóticas de meu coração.
Hoje, a conversa é outra! Gosto mesmo é dos dias quentes de verão e do florescer colorido da primavera, gosto de sentir o queimar do sol em minha pele branquinha, trazendo a ela uma coloração bonita e saudável, enquanto passeio por aí em belas e nostálgicas tardes que ficarão guardadas para sempre em minha memória, seja em lugares próximos ao campo ou entre os velhos e queridos casarões do centro. E quando o inverno chega… bem, quando ele vem frio e malquisto, costumo ficar atacada da alergia, a dificuldade para levantar da cama pela manhã e vencer o minuto heroico redobram e nem quero pensar na terrível sensação de colocar as mãos sob a água gelada! Talvez se ele chegasse ao Brasil na mesma época em que o Natal, e eu pudesse ver a neve cair pela janela enquanto contemplasse as luzes do presépio e da árvore de Natal pelo reflexo… mas não.
Bem, mas esse não é um texto para falar exclusivamente mal do inverno. Além do mais, se você for um peregrino atento, sabe que o objetivo de tudo isso é amarmos a vida em todas as estações, mesmo nas mais difíceis, como o inverno – literal e metaforicamente! –, e estou aqui justamente para dizer que, neste inverno, decidi fazer tudo diferente! Nada de reclamações porque não paro de espirrar, porque tenho de levantar cedo no frio, porque preciso realizar as tarefas domésticas com água fria no gelo do Vale das Vertentes, mas sim e somente agradecer e viver cada segundo com paciência e colocando todo o meu ser e o meu amor em cada pequena tarefa.
Não seguir os meus sentimentos, mas cumprir as minhas responsabilidades!
Essa foi uma das primeiras lições revistas neste inverno, ensinada por um pastor norte-americano chamado Jay Adams, que curou uma mulher que não saía da depressão há anos apenas com essa frase. E realmente ele está certo! Não só nisso mas nas lições adjacentes e semelhantes, como: “Quanto mais a pilha de roupa diminuir mais o seu espírito estará lá em cima.”. Peregrinos, nunca lavei tanta roupa como estou lavando neste inverno! E o melhor: com um singelo sorriso no rosto de quem está fazendo o que deve fazer, não por vontade, mas por vencer-se a si mesma, sentindo-me lá em cima a cada pilha que diminui. E, no tempo livre, bem… estou me preparando como todos os bons leitores fazem em sua época preferida do ano – embora, modéstia à parte, seja uma boa leitora, não faço parte dessa turma, sequer a compreendo! Rsrs. –, pegando um bom livro na estante para ler enquanto saboreio uma boa xícara de chocolate quente!