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Resenha: “O Despertar da Senhorita Prim”, de Natalia Sanmartin (2016)

“O que havia acontecido naquele intervalo? Se a Senhorita Prim a caminho de seu novo emprego o tivesse perguntado à proprietária da papelaria, ela teria explicado que esse mistério de prosperidade era resultado da tenacidade de um jovem homem e da sabedoria de um velho monge. Mas, como a senhorita Prim com seu passo ligeiro em direção à casa não reparou na sofisticada loja, a proprietária não pôde revelar-lhe com orgulho que Santo Irineu de Arnois era, na verdade, uma próspera colônia de exilados do mundo moderno à procura de uma vida simples e rural.”

É basicamente assim que começa nossa história de hoje.

Prudência Prim é uma mulher da cidade grande, tão independente e repleta de títulos acadêmicos quanto abarrotada de falsos ideais e uma educação que só mesmo a escola moderna pode formar. Aparentemente cansada das investidas do chefe, do ambiente frio e sem vida onde trabalhava todos os dias e o dia inteiro (como uma boa mulher moderna!), bem como da vida vazia na qual escondia sua verdadeira essência até mesmo de quem declarava ser seus “amigos”, ela vai atrás de uma vaga de emprego — a qual não cumpre o principal requisito: não ser formada e nem pós-graduada! —, no pequeno e tradicional vilarejo de Santo Irineu de Arnois.

E é nesse encantador e misterioso vilarejo, onde não existem grandes indústrias, escritórios ou grandes empresas, e sua sobrevivência advém somente de produtos artesanais de altíssima qualidade e dos produtores rurais; que Prudência Prim começa a sua jornada de desconstrução, o seu despertar. É também lá, nesse pedacinho de chão, à primeira vista considerado estranho e um tanto retrógrado por ela, que o encantador e inteligente homem da poltrona, as crianças e aqueles que viriam a se tornar seus amigos de verdade, pouco a pouco, vão lhe mostrando os estragos causados pela constante destruição do ocidente. Estas pessoas causam primeiramente uma certa revolta em Prudência por irem contra tudo que lhe fora ensinado nas universidades, mas também a deixam constantemente perturbada com argumentos sábios e irrefutáveis. No fundo, só queriam ajudá-la e passar para ela tudo o que a experiência lhes mostraram sobre o moderno, e porque primam tanto pela preservação da tradição, da pureza de seus pequenos e da recuperação da antiga cultura. Em Santo Irineu, além de ser obrigada a enfrentar suas constantes batalhas interiores, a senhorita Prim se apaixona perdidamente pelo seu novo chefe, um homem que nada tinha a ver com ela em princípios e que, apesar de dizer com clareza que Mr. Darcy não é perfeito e só tem colocações tão fabulosas em momentos tão propícios em virtude da escritora inigualável que controla os seus diálogos, ele mesmo fala exatamente o que deve ser dito no momento em que deve ser dito — ainda que a Senhorita Prim o considere extremamente arrogante, dominador e prepotente por isso. E, aparentemente, orgulhoso também! Mas isso logo passa após uma expressão de autêntica de puro horror e um pedido sincero e concedido de perdão.

Confesso que “O Despertar da Senhorita Prim” é um livro que há muito procurei, e há muito pouco encontrei. Por mais incrível que pareça, essa descoberta se deu consequentemente após o meu despertar para a Verdade. A obra trata de temas importantíssimos para os dias de hoje como, por exemplo, a questão do chamado “homeschooling” ou ensino domiciliar, a hipocrisia do movimento feminista, que engana a tantas mulheres e o qual é tão sórdido e perverso que constrói falsas ideias na sociedade, a ponto de mulheres como a Senhorita Prim — que declaram abertamente nunca terem levantado tal bandeira! —, dizerem que, no início, o movimento fora libertador e tantas outras falácias que elas concebem sem nem ao menos saber ou procurar encontrar tais origens tão sujas. Mas se engana quem pensa que o livro apenas refuta habilmente tantas coisas que o mundo moderno prega, como os estragos catastróficos causados nas personalidades humanas atuais, frutos de uma educação completamente destruída e desprovida do verdadeiro saber e busca pela verdade; esta grande obra de Natalia Sanmartin — a qual possui somente dois defeitos: o de terminar, e o de terminar sem um epílogo! —, mostra-nos que o vazio originalmente presente desde o nascimento nos corações dos homens só pode ser preenchido por Deus, e para chegar até Ele, não é necessária uma fé desprovida de razão, como muito se faz acreditar atualmente, mas é exatamente o contrário. E, caso passemos a vida sem buscá-Lo, corremos o risco não só de morrermos com os corações eternamente vazios, mas, como diz o querido Pe. Paulo Ricardo, sermos vítimas da maior tragédia que realmente é digna desse nome: “jamais vermos a Deus face a face!”

“ — Mas — a senhorita Prim fez um esforço para encontrar as palavras — o senhor poderia me convencer a ir ao Taiti.

O homem da poltrona se calou por um momento, que para a bibliotecária pareceu uma eternidade.

— Eu iria até o fim do mundo apenas para convencê-la a ir ao Taiti — disse com estranha intensidade na voz. — Faria tudo o que estivesse ao meu alcance para convencê-la. Mas acredito que a nossa viagem seria um fracasso, um terrível fracasso, se a senhorita não tivesse certeza de que gostaria de conhecer o Taiti antes de começá-la.”

Para quem não viu o vídeo sobre minhas primeiras impressões sobre o livro, basta ir ao meu Instagram e conferir o IGTV. Ele também está disponível no canal do YouTube, caso alguém prefira.

Espero que tenham gostado e que não deixem de passar a vida sem ler essa verdadeira obra de arte repleta de diálogos profundos. Amanhã, teremos um post com os melhores trechos do livro.

Com amor,

Elisabeth.

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