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Resenha: “Punição para a inocência”, de Agatha Christie (1958)

Começo a resenha de hoje com uma pergunta: será que existe punição para a inocência?

Se você pensou, pensou, e não achou o título da obra coerente, preciso te dizer que Agatha Christie, mais conhecida como a “Rainha do Crime”, mostra-nos que sim, é possível os inocentes receberem uma punição. Ficou curioso (a)? Vem comigo que te conto direitinho essa história!

“Punição para a inocência” (ou “Ordeal by Innocence”, título original em inglês) foi lançado em 1958, e conta a triste e dramática história da família Argyle, que vive às sombras de um crime trágico ocorrido no passado: na noite do dia nove de novembro, entre as sete e as sete e meia, Jack Argyle entrou na casa de sua família e assassinou sua mãe adotiva a sangue frio com um atiçador de lareira.

Não demorou muito, a polícia logo o encontrou na madrugada seguinte com uma boa quantia roubada de sua mãe. No tribunal, jurou inocência, alegando que na hora do crime havia pegado uma carona em um sedã azul-marinho para ir de Redmyn até Drymounth um pouco antes das sete, e que não tinha como ter cometido o crime. A justiça procurou pelo homem do carro, espalhou a notícia pelo país, mas o sujeito não apareceu. Por fim, mesmo a defesa seguindo uma linha de que Jacko possuía uma instabilidade mental, Jack Argyle fora condenado à prisão perpétua e, seis meses depois, morreu de pneumonia na cela onde cumpria sua pena.

Nossa história começa, de fato, com um homem atormentado fazendo a travessia de um rio com destino certo a Sunny Point. Naquela noite, ele faria uma dura revelação à família Argyle, uma que tiraria toda a tranquilidade – se é que eles realmente tinham alguma desde que tudo acontecera – e o sono dos integrantes daquela casa. Após chegar ao antigo lugar denominado Viper’s Point, foi até seu destino e, no escritório de Leo Argyle, viúvo de Rachel, Arthur Calgary declarou para os piores pesadelos do clã que “Jack Argyle era… inocente!”, e ele era o homem quem dera a carona para Jacko na noite do crime.

Após dar a notícia, o Dr. Calgary pensou que todos ficariam felizes e que a reputação de Jacko seria enfim limpa com um livre-indulto, entretanto tudo o que recebera foi uma incredulidade de quem quer acreditar obstinadamente de que ele estava errado ou que ainda estava confuso da concussão que sofrera; como se eles precisassem que Jacko fosse o assassino para poderem ter paz. Obviamente, Arthur não entendeu nada. Entretanto, depois de conversar sobre o assunto com as pessoas certas e se aprofundar no caso, descobriu o tamanho do baque que sua notícia causou, e o que a inocência do filho mais problemático dos Argyle realmente significava para aquela família estranha: se não foi Jacko quem matou Rachel, o assassino só podia ser um deles!

“— Essa sua insistência em fazer justiça! De que isso importa para o Jacko? Ele está morto. Jacko já não tem nenhuma importância. O que importa somos nós!

O que a senhorita quer dizer?

— Que não é o culpado o que importa. É o inocente.”

Preciso dizer que esse foi o primeiro livro que li da Agatha Christie, e acredito que não poderia ter feito uma escolha melhor, pois esse livro me surpreendeu até as últimas páginas, foram reviravoltas atrás de reviravoltas. Sem saber, escolhi um dos dois livros preferidos da autora! Além da Rainha do Crime ter nutrido uma predileção por “Punição para a inocência”, seu outro trabalho favorito era o romance policial “A Casa Torta (“Crooked House”, em inglês), publicado em 1949, e que já estou louca para ler.

“Punição para a inocência” me fez ver, aos poucos, como tudo o que parecia ser, não era, e tudo que acreditava ser, desacreditei, para no final, descobrir que estava certa mas de um jeito ainda pior. Ficou confuso, né? Mas tenho certeza de que muitos vão se identificar quando lerem.

Foi incrível criar mil e umas teorias, ficar apreensiva e não conseguir para de ler um segundo sequer até descobrir tudo que realmente aconteceu. É preciso destacar que Agatha vai além do mistério, e nos mostra personagens reais. Durante a narrativa, vemos como todos tinham aparentes “motivos” para matar Rachel (desde o marido adúltero Leo, seus filhos, a amante de seu marido até a governanta sueca), e como tal fato destruía as relações entre eles e as pessoas com quem se relacionavam. Ruíam eles mesmos! Agatha nos mostra também que Rachel, apesar de ser uma mulher generosa e que não havia evidentes motivos para avivar o ódio de alguém, deixou-se levar por uma obsessão perigosa; como um sentimento que naturalmente é maravilhoso, em excesso pode levar à diversos ressentimentos profundos e se tornar fatal.

“— No que está pensando, senhorita Argyle?

[…]

— Naquelas palavras da Carta Magna: “Não negaremos justiça a nenhuma vontade humana.”

Eu amei a construção dos personagens, e foi surreal como Agatha realmente passou através de suas palavras a apreensão de que, durante um jantar, um dos irmãos, o pai ou um dos filhos pôde ter sido o grande responsável pela morte da mãe e da esposa, e como nenhum deles se sentia seguro e não podiam confiar em ninguém; o que devia ser o contrário já que eram uma família!

Vale ressaltar também que se engana quem pensa que o livro é feito apenas de mistério! Para quem aprecia romances tanto quanto eu, vai gostar de saber que essa obra também contém alguns romances em segundo plano, o que me fez amar ainda mais o desenrolar dos acontecimentos. Porém, como uma boa resenhista devo alertá-los: preparem-se para ficar com o coração na mão! E não se esqueçam dos lencinhos!

Como é um livro de mistério, não vou me alongar ainda mais para não correr o risco de dar algum “spoiler”, então só peço uma coisa: leiam! Termino essa resenha com uma frase de Kipling, no melhor estilo “Agatha Christie”, que apareceu em uma das conversas entre os personagens e que resume bem essa obra magnífica:

“Nada está resolvido até que esteja plenamente resolvido.”

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