1º Texto de Primavera (Ano 2022): Chuvas de Natal

A chuva começou a cair lá fora, trazendo-me lembranças de uma época, de um lugar, de um cheiro e daquele conhecido sentimento que só os dias pura e intrinsecamente natalinos de dezembro são capazes de fazer aflorar aqui dentro. É verdade que ainda não é dezembro, mas também é igualmente verdadeiro que o céu se derrama em lágrimas ferozes na rua e que, hoje, é domingo. E este, em especial, por alguns instantes, nunca se pareceu tanto com os que sempre precederam o Natal.

De repente, veio-me uma forte sensação dos anos de antigamente, dos famosos tempos que registraram suas marcas e disseram adeus para nunca mais voltar. Daqueles que fazem a saudade bater à porta e o coração doer, embora corações não doem. Lembrei-me das chuvas de outrora, da velha estação de trem, dos sinos anunciando a Missa de domingo, da casa grande próxima à pequena praça localizada na velha rua repleta de recordações, do conhecido cheiro do quarto que era nada mais que um refúgio secreto em contraste com o temporais de verão, do tio querido que sempre oferecia balinhas após o almoço e, por alguns momentos, tenho certeza de que pude escutar o Lennon cantar “Happy Xmas” no rádio como em todos os anos e, em seguida, Zezé di Camargo e Luciano fazerem o mesmo com “Marcas do que se foi”. E não é que tudo se foi mesmo?

Foi-se o tio querido morar no céu que hoje chora, foram-se as brincadeiras de criança e os teatros após o almoço de Natal, foram-se também as leituras e os filmes de mãos dadas, os risos, as sobremesas e as tradições, foi-se a casa que já não é mais a mesma e as despedidas que jamais serão como antes. Foram-se até mesmo os afetos que, um dia, prometeram tacitamente nunca irem embora e deixar o amor para trás.

De repente, acabou, ficou no passado. De repente, achou-se entre as lembranças que batem à porta e fazem os olhos arderem – e os corações doerem! -, os retratos na memória de tudo que se foi um dia e já não é mais. De tudo que foi doce e hoje é doce nostalgia.

Só ficaram as chuvas. As chuvas de Natal.

Essas ainda são as mesmas. E sempre farão os mesmos corações se recordarem de doer por todos aqueles anos que passaram e marcaram não só a memória, mas os cantos dos lábios que, inevitavelmente em todos os dezembros, curvaram-se perante a felicidade.

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Sobre mim

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Maria Elisabeth

Olá, peregrino(a)! Eu sou a Maria Elisabeth, escritora, terapeuta e artesã. Comecei a escrever o blog Amar a Vida para partilhar as minhas experiências na busca por uma vida que vale a pena ser vivida. Aqui, quero te inspirar a enxergar que por detrás de todos os nossos dias comuns e aparentemente banais, sejam eles felizes ou repletos de cruzes, existe um tesouro guardado para aqueles que buscam a Verdade. Espero que goste! 

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Maria Elisabeth

Maria Elisabeth tem 24 anos, é escritora, terapeuta e artesã. Nasceu na capital de São Paulo, mas atualmente leva uma vida nômade entre São João del-Rei (sua cidade queridinha, no sul de Minas Gerais) e Salvador, Bahia, capital que tem todo o seu coração e que já lhe adotou com sucesso!

Começou a escrever o blog Amar a Vida depois de um encontro marcante, inesquecível e decisivo com Jesus Cristo. Como em um diário, aqui, Maria registra sua jornada de peregrina em busca da santidade, após a sua reaproximação com a Igreja Católica. Em cada um dos seus textos, tenta compartilhar um pouco da história de sua alma com o Bom Deus. Neles, revelam-se o grande aprendizado desta nossa peregrinação: que a vida é extraordinária não somente nas tardes ensolaradas e alegres de verão e primavera, mas também nas noites frias e tristes de outono e inverno.

“Sei que é difícil amar a vida em todas as estações (eu te entendo!), mas também sei que Jesus nunca nos abandona. Mesmo! Basta que nos entreguemos a Ele. Então, veremos que por detrás de todos os nossos dias comuns e aparentemente banais, sejam eles felizes ou repletos de cruzes, existe um tesouro guardado para aqueles que buscam a Verdade.”