Esta é uma reflexão não só para melancólicos (embora seja tão certeira para eles quanto uma flecha!) ou coléricos, mas para todos que, a qualquer momento, podem cair na infelicidade, no problema e no atraso de vida que é o perfeccionismo. Sim, meus amigos, o perfeccionismo é um problema – e dos grandes!
Muita gente pensa que ser perfeccionista é uma virtude, mas é preciso ter muita calma nessa hora e saber discernir algo básico que é: dar o melhor que você pode e ficar constantemente angustiado, entristecido e frustrado porque, ao seu ver, as coisas nunca estão boas o bastante para serem, enfim, reveladas ao mundo.
Em primeiro lugar, já deixo muito claro que não tenho nada contra perfeccionistas, até porque, há bem pouco tempo, eu mesma era uma. O fato é que, depois de muito estudar, finalmente, entendi porque ser perfeccionista é, no mínimo, um atentado contra a razão. E é isso que pretendo dividir com vocês, agora que as escamas finalmente caíram de meus olhos. Não é um ataque, mas uma ajuda necessária; porque só quem sofre com isso, sabe o tamanho do fardo que uma pessoa assim carrega nas próprias costas.
Grande parte dos escritores, poetas e artistas têm consigo algo que é uma verdade universalmente conhecida de que os criadores nunca estão satisfeitos com suas obras e pensam que sempre há o que melhorar. Por muito tempo, como escritora, eu também tive isso – não somente em relação às minhas obras, mas em todas as áreas da minha vida. Agora, pensem comigo: imaginem o tamanho do buraco que Machado de Assis teria deixado na literatura brasileira se tivesse pensado dessa mesma forma e, com isso, nunca tivesse publicado suas obras por não achar que eram boas o bastante? E Guimarães Rosa?
“Ah, não vou me arriscar a mostrar minhas obras, não, porque criei várias palavras diferentes e esquisitas, e o povo não está acostumado com isso.”
Gente, isso é grave!
Agora, eu tenho um recado para você que fará cair por terra esse seu problema que muito me atormentou. Existe algo sumamente precioso que você não pode simplesmente clicar em um botãozinho para dar “replay”: é a sua vida!
Quantos de nós não cometemos erros grotescos, desvios pelos quais nunca gostaríamos de lembrar que pegamos em nossos caminhos? Todos nós! Todo mundo na face da Terra tem algo do qual se arrependeu de ter feito. Mas, na vida, diferentemente dos nossos projetos, nossas obras, nossos trabalhos, não dá para apertar o “começar de novo”. E o que somos obrigados a fazer: amadurecer e aprender a lidar com os fatos. Por mais trágicos que possam ser, os erros fazem parte da nossa história. E que bom! Sem eles, nós não cresceríamos jamais! A gente erra muita até encontrar a Verdade.
O grande problema de quando criamos essa ilusão de que as coisas precisam ser perfeitas, o que se segue a esse pensamento, que nada tem de racional, é: por não conseguirmos atingir a perfeição, nós paralisamos a nossa vida e deixamos de fazer o que tínhamos de fazer porque… Afinal, não estava bom o bastante!
Sabe quem é o único digno de ser chamado perfeito? Deus! Esta é a soberba disfarçada pelo perfeccionismo que carregamos dentro de nossos corações quando queremos ser e fazer tudo perfeito: nós queremos ser Deus. Nós, que somos verdadeiros miseráveis, que precisamos a todo instante buscar retirar de nós vícios, misérias e pecados de dentro do peito achamos que podemos ser como Deus e criar algo perfeito. A gente trilha e aspira um caminho de perfeição, e isso é um caminhar longo, de uma vida inteira. E mesmo assim, quantos de nós não conseguimos a graça de ir para o céu diretamente?
Mais uma coisa: enquanto ficamos parados e frustrados no meio do caminho, existe outras pessoas percorrendo a estrada, ajudando infinitamente os outros e não se importando em nenhum grau se está tudo saindo na mais perfeita ordem. Você poderia estar fazendo o mesmo – e acredite! Tem gente que precisa descobrir o que você tem a compartilhar, mas ao invés de ajudar a essas pessoas, você está preocupado com o mínimo desnecessário.
Fazer com amor e dar tudo de si, sim; deixar de ajudar por puro e irracional perfeccionismo, jamais!