Boa tarde, gente linda!
Como vocês estão? Espero que muito bem!
Ontem, postei no blog a resenha de “O Despertar da Senhorita Prim”, de Natalia Sanmartin, esse livrinho maravilhoso e que contém inúmeros ensinamentos que são verdadeiros tesouros. Por isso, além da resenha, do vídeo sobre primeiras impressões que postei no Instagram e no canal, decidi fazer também uma postagem com os melhores trechos e frases. Como o livro é bom demais da conta, “sentem que lá vem história” (risos)!
“O que havia acontecido naquele intervalo? Se a Senhorita Prim a caminho do seu novo emprego o tivesse perguntado à proprietária da papelaria, ela teria explicado que esse mistério de prosperidade era resultado da tenacidade de um jovem homem e da sabedoria de um velho monge. Mas, como a senhorita Prim com seu passo ligeiro em direção à casa não reparou na sofisticada loja, a proprietária não pôde revelar-lhe com orgulho que Santo Irineu de Arnois era, na verdade, uma próspera colônia de exilados do mundo moderno à procura de uma vida simples e rural.”
“Você sempre diz que é preciso fazer o que em justiça é preciso fazer. Você sempre diz.”
“Minha única intenção é que as crianças possam um dia tornar-se tudo o que a escola moderna é incapaz de produzir.”
“[…] parece-me surpreendente ver um burocrata em um casamento.”
“[…] mas qualquer mulher percebe sem dificuldade que Darcy é um homem que diz exatamente o que tem de dizer a todo momento.
– O que é perfeitamente natural – respondeu ele –, se levarmos em consideração que é uma personagem literária e que há uma mão que escreve seus diálogos. […] O que ponho em questão é que a personagem de Darcy represente um homem perfeito. A novela, como certamente se lembrará, chama-se Orgulho e preconceito porque Mr. Darcy é orgulhoso e srta. Elizabeth Bennet é preconceituosa. Ergo, senhorita Prim, Darcy não é perfeito, porque o orgulho é o maior dos defeitos de caráter, e um homem orgulhoso é profundamente imperfeito.
– Como o senhor, sem dúvida alguma, deve saber por experiência – respondeu a bibliotecária antes de levar a mão à boca, horrorizada com o que acabava de dizer.”
“[…] Além disso, uma coisa me diz que não será a última vez que devo perdoar-lhe.”
“– Senhorita Prim – perguntou a pequena Eksi do outro lado da mesa –, não acha que nosso tio diz sempre o que tem de dizer?
– É possível, querida, é possível – murmurou ela muito acalorada. Depois foi para perto do forno, abriu a porta com cuidado e pôs lá dentro com certa impetuosidade, poderia dizer-se que até com um toque de euforia, seu maravilhoso bolo.”
“– Mas, minha querida, olhe para si – a voz clara e suave de Hermínia Treaumont deteve a senhorita Prim – Mora na casa de um homem, trabalha o dia inteiro sob as ordens de um homem e recebe um salário do mesmo homem, que a cada primeiro dia do mês paga pontualmente todas as suas despesas. Realmente tinha a ilusão de estar liberada da dependência masculina?”
“– Acalme-se, Prudência. Nenhum homem pode converter-se a si mesmo ou a outro tendo sua própria vontade como única ferramenta, não se preocupe com isso. Somos causas secundárias, lembra-se? Por mais que nos empenhemos, a iniciativa não é nossa.
– Não sou tomista – disse a bibliotecária secamente contrariada pela sensação de ter deixado entrever seus medos.
Surpreso, ele a observou como um pai olha para uma menina que se orgulha de não saber ler.
– Esse, senhorita Prim, é o seu grande problema.”
“[…] não classificava os problemas como grandes ou pequenos, como todo o mundo faz. Ele sempre dizia que os anjos estão nas coisas simples, e nunca há anjos onde as coisas são complicadas. Pensava que o pequeno é importante.”
“Não, é claro que não. A Redenção não se parece nem um pouco com os contos de fadas, senhorita Prim. São os contos de fadas e as antigas lendas que se parecem com a Redenção. Nunca reparou nisso? É como quando se copia uma árvore do jardim no papel. A árvore do jardim não se parece com o desenho, não é? É o desenho que se parece um pouco, apenas um pouquinho, com a árvore real.”
“Pense desta maneira: se estivesse convencida de que o mundo se esqueceu de como pensar e educar, se acreditasse que a beleza da literatura e da arte estivessem marginalizadas, se pensasse que a força da verdade fora silenciada, o que o mundo ensinaria a seus filhos?”
“– Uma pessoa tolerante? – riu ele. – Vamos lá, Prudência, eu diria que é uma pessoa extremamente rigorosa. Admito que é uma virtude maravilhosa para seu trabalho e sou o primeiro a beneficiar-me disso, mas deve ser um fardo muito pesado para umas costas tão frágeis como as suas.”
“Vamos lá, não é tola, Prudência, apenas se comporta como tal. […] o que acontece é que há algumas coisas que a fazem sofrer, e a fazem sofrer porque não as entende bem, simplesmente isso.”
“– Essa resposta não é digna de uma mente clara, Prudência. E é um dos frutos da educação antitomista de que é tão orgulhosa. A questão aqui ou em qualquer outra discussão não é se minha resposta é ou não religiosa, mas se é ou não é verdadeira. Não vê a diferença? Responda-me com argumento, Prudência, diga-me que acredita que não é verdade o que digo, explique-me porque isso não é verdade, mas não me responda que meu argumento não funciona porque é religioso. A única razão pela qual meu argumento pode não servir aqui ou no fim do mundo é simplesmente porque seja falso.”
“[…] O que acontece é que só reconhece a verdade quando ela está vestida de roupa secular.”
“– Estou com frio. O senhor se importaria de levar-me já para casa?
– Importar-me? Estou sempre disposto a levá-la para casa, Prudência.”
“– Que beleza salvará o mundo? – disse em voz baixa.
O homem da poltrona a observou com curiosidade através da escuridão do carro.
– Dostoiévski, Prudência? Dostoiévski? Eu, se fosse a senhorita, começaria a preocupar-me.
A senhorita Prim, calidamente envolta no sobretudo de seu patrão, sorriu feliz sob o manto da escuridão.”
“– É curioso que aqueles que vomitam as palavras mais ácidas contra o casamento sejam precisamente aqueles que sabem menos dele.”
“[…] A rotina é como a estepe; não é nenhum monstro, é um alimento. Se a senhorita conseguir fazer que algo cresça ali, pode ter certeza de que esse algo será forte e verdadeiro. São as pequenas coisas cotidianas de que falamos antes.”
“[…] a civilização traz consigo, implícita, a ideia de memória. Os selvagens mal perpetuam alguns punhados de tradições, não podem guardar por escrito sua história, não têm nenhuma vocação à permanência.”
“– Não é tanto o que nós observamos em seu olhar, mas o que ele vê nos olhos dos outros.”
“É esse precisamente o cerne da questão, Prudência. O meu ceticismo não é pirrônico, mas científico. Aceito qualquer pressuposto que conte com uma evidência empírica que o respalde.
– Ah sim? – respondeu a bibliotecária – E há alguma evidência empírica que respalde essa faculdade a que o senhor alude e segundo qual o velho monge sabe o que qualquer pessoa é?
Seu companheiro parou para olhar em seus olhos.
– Se há? Claro que há.
– E qual é, se é que se pode saber?
A senhorita Prim adivinhou o que Horácio Delàs diria exatamente um segundo antes que ele o dissesse.
– Os buracos negros da minha própria vida, é claro.”
“[…] mudara sua maneira de ser, e isso era algo poderoso, algo profundo e perturbador.”
“– A sensibilidade é um dom, Prudência, estou perfeitamente ciente disso. Mas a sensibilidade não é o instrumento adequado para pensar, e, quando é utilizada para pensar, não só não conduz a um bom porto, mas encaminha ao desastre.”
“Mas a verdade é que não tinha ideia de como o sobrenatural pode tocar o natural até ver isso refletido nela.”
“O homem da poltrona levantou-se, pegou o chapéu, o casaco, o cachecol e dirigiu-se para a porta da biblioteca.
– Eu diria que a senhorita é uma mulher que olha para si mesma também.
– Verdade? – disse a bibliotecária sem se virar, e ouvindo-se responder com a voz trêmula – E quanto ao senhor? O senhor olha para si mesmo também?”
Ele virou a cabeça e esboçou um leve sorriso já da porta.
– Devo confessar que acho muito mais interessante observá-la.”
“[…] a igualdade nada tem a ver com o casamento. A base de um bom casamento, de um casamento razoavelmente feliz (porque não existe, não se engane, um casamento totalmente feliz), é precisamente a desigualdade, que é algo indispensável para que entre duas pessoas haja admiração mútua. Ouça com atenção o que digo: não aspire a um esposo como a senhorita, deve aspirar a um esposo absoluta e completamente melhor que a senhorita.”
“Observando a história, verá que a maioria dos grandes homens, os verdadeiramente grandes, sempre escolheu uma mulher admirável.”
“– Não, querida, não. O que quero dizer é que o fato de que a senhorita não acredita naquilo em que ele acredita fará com que nunca, jamais, ele consinta em apaixonar-se realmente pela senhorita.”
“<< Não me procurarias se já não tivesses me encontrado.>> […] – Ninguém começa esta procura se já não encontrou o que procura, a Ele que procura, se este não toma a iniciativa de se deixar encontrar. Acredite em mim quando digo que é um jogo em que todas as cartas estão em uma mesma mão.”
“Mas as crenças teóricas não salvam ninguém. A fé não é algo teórico, Prudência. A conversão é tão teórica quanto um tiro na cabeça.”
“– Escute – disse Septimus ao observar as lágrimas que silenciosamente deslizavam pela face da bibliotecária –, gostaria que não chorasse tanto.
– Sinto muito não poder agradar-lhe. Ao contrário de você, eu também choro em tempos de paz.”
“– E então, minha querida Prudência, casar-se com um homem como ele significa casar-se completamente. […] Quero dizer realmente casar-se, casar-se até a morte. Nada de divórcio, minha amiga, é isso que quero dizer.”
“[…] Sempre me sentiria ligada a ele, porque saberia que ele sempre se consideraria unido a mim.”
“– E então, como ficamos? […] Nosso homem tem consciência de seu atrativo, ou não tem a menor ideia dos estragos que causa?
– Eu diria que não tem ideia – disse suavemente. – E que este é precisamente o seu encanto.”
“[…] e a senhorita Prim acreditava que as personalidades imponentes, assim como as forças da natureza, eram perigosas e imprevisíveis.”
“É um alívio pensar que ainda há mulheres que sabem sentar-se.”
“A tradição não tem idade, querida, é a modernidade que envelhece.”
“– Mas – a senhorita Prim fez um esforço para encontrar as palavras – o senhor poderia me convencer a ir ao Taiti.
O homem da poltrona se calou por um momento, que para a bibliotecária pareceu uma eternidade.
– Eu iria até o fim do mundo apenas para convencê-la a ir ao Taiti – disse com estranha intensidade na voz. – Faria tudo o que estivesse ao meu alcance para convencê-la. Mas acredito que a nossa viagem seria um fracasso, um terrível fracasso, se a senhorita não tivesse certeza de que gostaria de conhecer o Taiti antes de começa-la.”
“– A senhorita acha? – perguntou ele com um sorriso. – Talvez um dia perceba que se pode ir até o fim do mundo sem sair de uma sala, Prudência.”
“– As pessoas que deixam um lugar sem motivo ou estão fugindo de algo ou estão procurando algo.”
“– Disseram-me que a senhorita valoriza a delicadeza e a beleza – continuou o velho. – Procure então a beleza, senhorita Prim. Procure-a em silêncio, procure-a na calma, procure-a no meio da noite e no amanhecer. Pare para fechar as portas enquanto as procura, e não se surpreenda se descobrir que ela não vive em museus ou está escondida em palácios. Não se surpreenda se, finalmente, descobrir que a beleza não é um quê, mas um quem.”
“– No entanto, creio que posso dizer-lhe o que constitui o coração sobrenatural do matrimônio, aquilo sem o qual este não poderá vir a ser mais do que um castelo de cartas colocadas com mais ou menos felicidade. […] Sucede, querida filha, que o casamento não é de dois, mas de três.”
“[…] Não era ela que gostava dos versos; eram os versos que a recriavam. Caíam sobre sua mente – ou sobre sua alma? – justo ao amanhecer, quando ela se levantava para ver o sol nascer; apanhavam-na ao meio-dia, enquanto ela observava os beneditinos cultivando a terra e deixando pontualmente as enxadas para rezar o Ângelus. Embalavam-na à noite, quando se sentava nos cafés e lia até que a falta de luz e o frio da noite a tirassem de seu ensimesmamento.”
“Havia aprendido a fechar portas. Havia aprendido a abri-las e fechá-las suavemente com cuidadosa precisão. E, quando se aprende a fechar portas, – pensava enquanto observava o casal apaixonado –, de alguma forma se aprende a abrir e fechar corretamente todo o restante.”
Espero que tenham gostado!
Até a próxima!
P.S.: Talvez (eu disse talvez!), teremos mais um post em formato de vídeo comentando alguns trechos do livro que achei importantes e podem nos fazer refletir. Fiquem ligados!